quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A reconstrução de dois pilotos

Depois do lamentável acontecimento no GP da Alemanha, Felipe Massa foi para a Hungria e revisitou os médicos que lhe atenderam um ano antes quando sofreu o terrível acidente nessa mesma pista. Abraços, sorrisos, gratidão verdadeira, foi isso que pode se perceber na cena do reencontro. Aparte a isso, seu GP foi discreto. Largou em quarto lugar e na mesma colocação chegou, sem em nenhum momento ameaçar os três primeiros Webber, Alonso e Vettel.

Acabado o GP, concedeu as entrevistas habituais aos órgãos de imprensa que cobrem o evento e lá foi Massa pegar seu avião rumo ao Brasil. Desde então, silêncio total.

Passadas mais de duas semanas desde o inicio das férias de meio de ano da F1, Bruno Senna, Lucas Di Grassi e Rubens Barrichello tem dado entrevistas e feito aparições em eventos e na mídia, sobretudo este último. Rubens nas últimas semanas concedeu entrevistas para o Esporte Espetacular, Serginho Groisman, Jovem Pan, Band (rádio e TV), RedeTV, Rede Record, esse blog aqui etc. 

É interessante observar o atual momento de Rubens Barrichello (foto à direita). Ele enfrenta um momento de parcial reversão da imagem negativa que por muitos anos teve junto a setores da sociedade brasileira. A ordem de equipe cumprida por Massa em Hokchenheim tirou dos ombros de Rubens parte do estigma de "piloto vendido" ou "subserviente" que arrastava desde o fatídico episódio do GP da Áustria de 2002. No imaginário popular brasileiro, a repetição do episódio agora com Massa, dissolve em parte a "culpa" do veterano piloto da Williams. A sociedade aos poucos se conscientiza que por mais desagradável e antidesportivo que seja, acatar ordens de equipe não era exclusividade de Barrichello, e sim um fato que ocorre mais vezes do que gostaríamos na F1, com pilotos das mais variadas nacionalidades desde os tempos mais antigos e que hoje se torna mais visível devido ao áudio das conversas entre piloto e equipes disponibilizados pela FIA.

Some-se a isso a emblemática e bem sucedida ultrapassagem de Rubinho em cima de Schumacher pelo pontinho do 10º lugar no GP Húngaro e pronto: De uma lado a Marmelada na F-1 sendo entendida como um erro/abuso da Ferrari de ontem e hoje, não do piloto (de ontem ou de hoje), do outro lado a encarniçada batalha na pista restauraria em Barrichello a imagem de "guerreiro" que o público quer ver em seus pilotos.

Não digo com isso que agora Barrichello apagou da memória dos brasileiros as piadas maldosas que lhe fizeram ou a decepção que simbolizava, nem que voltou a ser o queridinho unânime, mas voltou sim a ser mais respeitado como piloto, podendo seus resultados na pista voltarem a ser vistos com mais idoneidade e menos ranço, dentro daquilo que seu equipamento, uma ascendente mas ainda média Williams Cosworth permite.

E Felipe Massa (foto abaixo)? Como escrevi acima, sumiu. Nenhuma entrevista na mídia Brasileira, não aparece em lugar algum e assim deve ser por um tempo, até a "mágoa" do público com ele amenizar mais um pouco e o julgamento da FIA acontecer. Mesmo depois disso, não haverá muito o que ele possa falar do episódio, mas restará a Massa dos mais difíceis desafios de sua carreira: Esse ano ele, assumindo ou não, já está trabalhando para ajudar Alonso na luta pelo campeonato, só podendo vencer uma corrida quando não for possivel ajudar o espanhol. No ano que vem, entretanto, ele tem que provar na pista que ainda é merecedor de tratamento igual da equipe, e isso só conseguirá sendo consistentemente mais rápido que seu companheiro de equipe nos treinos, classificações e corridas e não comentendo erros. O que "pega" é que ele terá que fazer tudo isso em cima do bicampeão Fernando Alonso, um piloto que desde que estreou na F1 em 2001 não sabe o que é perder uma disputa interna, a exceção da passagem pela Mclaren, onde Hamilton (não a toa hoje campeão mundial e vice-lider do atual campeonato) teria lhe dado muito trabalho.
 
Além disso, há a silenciosa batalha de fazer os carros da Ferrari daqui pra frente nascerem e evoluírem mais ao gosto de pilotagem de um piloto específico. Mesmo tendo estilos de condução parecidos, ha diferenças sutis que num projeto pode significar a melhor adaptação de um piloto do que a do outro ao carro, fator que tem seu peso na busca dos décimos no cronometro, e nesse sentido Alonso, tenha certeza, já tem maior influência nos destinos do carro de 2011 do que Massa.

O ano que vem deverá ser um divisor de águas na carreira de Felipe Massa dentro da Ferrari. Ele e todos nós descobriremos se de fato, seu o futuro na F1 ainda pode ser dentro da equipe italiana com Alonso ao seu lado ou se ele terá que buscar novos horizontes em outras equipes, como seu amigo Barrichello acabou fazendo.(Clique nas imagens para ampliá-las)

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