domingo, 1 de agosto de 2010

Campeões imorais, sociedade imoral?

Depois da polêmica ultrapassagem de Barrichello sobre Schumacher, mais uma vez os limites da ética e da esportividade são debatidos no âmbito da Formula 1. Semana passada tivemos o lamentável episódio de Massa ter que abrir para Alonso cumprindo ordens de equipe. Antes, ainda esse ano, Webber se sentiu, com razão, prejudicado pela equipe por não poder usar uma peça em seu carro que deveria ser sua, mas que foi dada a Vettel.

Se puxarmos pela memória recente da categoria máxima do automobilismo mundial, mais eventos negros permearam a história recente, como Nelsinho atirando seu carro contra a parede em Singapura para beneficiar Alonso, a Mclaren roubando informações da Ferrari, as ordens de equipe para Barrichello deixar Schumacher passar (várias delas sequer ficamos sabendo, nem ficaremos) entre 2000 e 2005, isso sem falar em estratégias de equipes que beneficiariam intencionalmente um piloto em detrimento de outro, como ocorre fartamente nos tempos recentes, como o caso do bico de Webber e Vettel em Silverstone.

Quem são os maiores prejudicados por essas estratégias e maracutaias? São vários: Os pilotos que tem que engolir tais medidas, os patrocinadores que tem suas imagens associadas a manipulações, o público que passa a não acreditar mais na lisura das disputas, e a credibilidade do esporte em si, que é posto em xeque.

E quem são os beneficiados? Em tese as equipes, que alcançariam o resultado almejado com o piloto que escolheram beneficiar e, é claro, o piloto escolhido.

E aí é que a "coisa pega". Em tese, os beneficiados seriam justamente os grandes campeões (ou com potencial para o serem), os pilotos mais rápidos e arrojados, a ponto de merecerem maior confiança e privilégios de suas equipes para disputar o título. Mas e a honra? E a ética? Que valor há numa conquista sabendo que seu principal rival, seu companheiro de equipe, não goza das mesmas condições que você? Digo que seu companheiro é seu principal rival porque é com ele que você pode realmente se medir, por dispor rigorosamente do mesmo equipamento. Se assim não é, qual o valor de uma conquista que já nasce viciada e tendenciosa?

Hoje em dia a glorificação das vitórias e títulos estão suprimindo a honra e a moralidade. Campeões como Schumacher e Alonso, por mais arrojados e rápidos que sejam, não se incomodam de ver seus nomes envolvidos em manipulações e até mau-caratismo desde que ao final seja beneficiado. Sabemos que os grandes campeões tem em suas personalidades traços de egoísmo, mas alguns acontecimentos tem superado essa linha e adentrado no mau-caratismo, na amoralidade e a tolerância da FIA, das demais equipes e mesmo de parte da mídia e do público com essas ações sujas é o que mais assusta. É como as novelas da TV, onde o publico passa a torcer pelo bandido ao invés do mocinho. Há uma inversão de valores na sociedade que reflete na indulgência e até simpatia com que tratam assuntos que deveria ser repudiados.

Se a F-1 está assim, um parte dessa responsabilidade é do público, porque se ele realmente não concordasse, Bernie Ecclestone e a FIA sentiriam isso na audiência e logo a seguir no bolso, e tomariam atitudes mais veementes para coibir o acontecimento desses fatos anti-desportivos e o consequente surgimento de campeões imorais. Se nada ou pouco fazem, é talvez porque a mensagem não lhes chegou tão forte aos ouvidos. Estaria a sociedade também tornando-se, pouco a pouco, imoral?

Digo "imoral" porque sabe-se que está errado, e não "amoral", onde não há consciência do que é certo e errado.

Imagem do dia

Em uma corrida chatinha como quase sempre é o GP da Hungria, o melhor momento foi a encarniçada ultrapassagem de Barrichello em cima de Schumacher, que foi sujo ao jogar o brasileiro em cima do muro, obrigando-o ainda a passar com suas rodas da direita em cima da grama. No final "o bem venceu o mal" e Barrichello com pneus macios e novos bateu o carro equipado com os melhores motores da F1 e conquistou mais um ponto para a Williams.